NOTA DE PESAR - JORNALISTA VANESSA RICARTE
A trágica morte de Vanessa Ricarte, aos 42 anos, com plena saúde e profissionalmente bem sucedida, não foi causada por doença ou alguma fatalidade: é decorrente do abjeto, repulsivo e condenável ódio que tem levado ao aumento de casos de feminicídio, aliás, o segundo em Mato Grosso do Sul neste ano que apenas começa. Onde está o Sistema de Garantia de Direitos, construído nas décadas de 1990 e 2000, cuja implementação fazia do Brasil um modelo até para países nórdicos, de tradição democrática?
Conhecedora de seus direitos, Vanessa Ricarte formalizou sua denúncia na Delegacia da Mulher na capital, foi-lhe concedida a medida protetiva mas no meio da tarde do mesmo dia seu algoz, com histórico de violência, a matou, como se não vivêssemos em um Estado Democrático de Direito, cujo arcabouço jurídico há mais de uma década e com pioneirismo no Planeta passou a adotar mecanismos de garantia de direitos, mas que autoridades das esferas estaduais nos últimos anos passaram a negar ideológica e politicamente.
E a normalização desse ódio covarde, travestido de manifestação de descontentamento e rebeldia, é cúmplice hipócrita de uma tragédia que atinge expressiva parcela populacional cuja invisibilidade, ou melhor, impunidade é fator de incentivo. Esse processo misógino e atrasado, no rastro de apologia a regimes fascistas e antidemocráticos, é cultivado por meio da conduta coletiva de figuras públicas, autoproclamadas ‘de bem’, que debocham cinicamente das conquistas protagonizadas pelas mulheres nas últimas décadas.
A cidadania no geral e a sociedade civil organizada, em particular, tem o dever ético e histórico de repudiar com veemência a crescente manifestação de misoginia e que culmina com o aumento de tentativas de feminicídio e de ações feminicidas diante de todos, como se ainda vivêssemos nos sombrios tempos de intolerância medieval. Mais que nunca, devemos uníssona e contundentemente somar nossa voz em diversas frentes para, além de erradicar este mal que oprime, mata e desampara inocentes, resgatar valores que têm sido descartados em nome de um sórdido individualismo em busca de prosperidade.
Valores civilizacionais, construídos com muita luta pelas gerações que nos antecederam, não podem ser enxovalhados para que seres bizarros estimulados por seres funestos façam de cidadãs como Vanessa Ricarte, mulher de atitudes sinceras e em seu pleno direito de procurar a realização pessoal e ser feliz, vítimas da covardia e da violência de alguém que em nome de um sentimento primitivo e mórbido se sinta, em plena luz do dia, no direito de amealhar a quem diz amar o patrimônio maior e princípio de direitos, que é a Vida.
Corumbá (MS), 13 de fevereiro de 2025.
Anísio G. da Fonseca
Observatório da Cidadania
Ahmad Schabib Hany
Pacto pela Cidadania
Munther Safa
Comitê Corumbá pela Paz
Observatório da Cidadania Dom José Alves da Costa
Fórum Permanente de Entidades Não Governamentais de Corumbá e Ladário
Pacto Pela Cidadania
Comitê Corumbá Pela Paz