Corumbá, Quarta, 28 de Maio de 2025
Ahmad Schabib Hany

SAL DA VIDA

|
Ahmad Schabib Hany
Sebastião Salgado, o fotógrafo que por mais de cinco décadas registrou a resistência da Terra e a condição humana, se eternizou, no mesmo período em que os gigantes Francisco, o Papa, e Mujica, o Pepe, também saíram de cena. E agora, o que será de nós?!
Por meio de uma linda crônica do querido Amigo-Irmão Armando Lacerda -- Até em preto e branco o Pantanal é colorido! -- tomei conhecimento da eternização do gigante da lente e da sensibilidade, Sebastião Salgado, Sal da Vida.
Partida de gigantes: primeiro, Francisco, o Papa; depois, Mujica, o Pepe. O que será, agora, de nós?!
Ainda que fosse uma pessoa doce e muito sensível, Sebastião Salgado foi a rigor sal -- não só na fecundidade, mas como salvador --, em distintos quadrantes do Planeta, das poucas áreas ainda em resiliência / resistência / re-existência, e no registro da condição humana de nossos semelhantes que clamam por seu direito a viver -- e não apenas sobreviver -- com dignidade.
Questionará o/a atento/a leitor/a: "condição humana de nossos semelhantes"? Por que essa redundância? Porque os (sic) "donos do mundo" já decretaram a assunção de nova espécie de homo sapiens sapiens, embora ainda não formalmente constituída. É questão de tempo.
Talvez o reconhecimento da nova espécie humana passe antes pelo crivo da plenária dos poderosos, o Fórum Econômico Mundial. Ou melhor, por Davos, onde tudo acontece, mas ninguém registra nada, pois o que importa é que tudo tem local e hora certa para a humanidade tomar conhecimento.
Para evitar que o mercado fique nervoso. Sempre o mercado...
SAL DA TERRA
Foi Chico Buarque -- sempre o Chico! -- que me "apresentou" Sebastião Salgado. Em 1998, naquele projeto em que os dois se propuseram a  desmistificar o MST, o Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais sem Terra. Passava eu uma temporada em Sampa, e o Chico fazia uma temporada por lá.
Memorável projeto: composições de Chico Buarque, fotos de Sebastião Salgado, interpretações de Beth Carvalho e Leci Brandão que integravam uma plêiade de iluminadas e iluminados. "Para soletrar a liberdade na cartilha do ABC..." Um ano depois, trouxe dezenas de CDs para distribuir a Amigas e Amigos, que não demonstravam ranço algum, pois as mentes não estavam contaminadas.
Quando ainda a Pauliceia Desvairada fazia jus à sua condição de metrópole. Quando o provincianismo promovido pelo sertanojo de triste rastro ainda não se emprenhara do monstro maldito do fascismo.
Quando o neopentecostalismo distava do fundamentalismo sionista. O veneno da Cargill não trazia a trágica marca da intolerância da necropolítica ostentando a perversão de mentes e corações tomados pelo obscurantismo negacionista.
Nega, sionista? Negacionista -- e nega, renega, sionista. Porque o Planeta lhes foi prometido a "eles". E os seis bilhões de seres humanos têm que ser tratados como insetos, como baratas. Estou mentindo?
Pouco mais de um quarto de século, e o monstro insepulto latente na sociedade contemporânea veio à tona e trouxe consigo a caixa de Pandora em uma tríade demoníaca: numa relação promíscua em que o telúrico, o sacro e o cívico se perverteram para restituir-se tribunal da inquisição [minúsculas], sem qualquer pudor ou comedimento.
Não por acaso, saem de cena Papa Francisco com sua magnanimidade, Pepe Mujica com sua simplicidade e o Sal da Vida com sua sensibilidade...
Felizes de nós que, em nossa insignificância, tivemos a sorte e a felicidade e conviver com pessoas que têm consciência de que a Vida, como a História, é um processo, e portanto intangível, sem donos, amos ou senhores.
Até sempre, Sebastião Salgado, do Sal, do Céu, do Sol e do Sul!

SIGA-NOS NO

Veja Também

FACES DA MESMA MOEDA

EDSON MORAES, O MESTRE

ATÉ SEMPRE, PEPE MUJICA!

MÃES, GUERREIRAS E EMPÁTICAS, PORQUE MULHERES