ALÉM DO TETO, ACIMA DO CÉU
Senhoras e senhores, o Brasil é, de fato, um país peculiar. Enquanto o cidadão comum ainda se pergunta se poderá pagar o boleto da escola ou o gás no mês que vem, um outro Brasil – blindado, togado, silencioso – desfruta do que podemos chamar, com todo cuidado, de uma realidade paralela.
Em 2024, o salário médio dos magistrados cresceu 49,3%. Sim, você leu certo. Quase cinquenta por cento. Isso num país em que a inflação do mesmo período ficou em modestos 4,83%. Não é apenas um salto. É um voo rasante sobre qualquer teto, moral ou constitucional.
Segundo estudo divulgado pelo "Movimento Pessoas à Frente", em março de 2025 o rendimento médio líquido de um juiz no Brasil atingiu R$ 65.532. Um número que faz corar o teto oficial do funcionalismo público – o dos ministros do STF – que é de cerca de R$ 46 mil. É como se o teto fosse uma sugestão... ou uma peça decorativa no Palácio da Justiça.
Mais grave que o número, no entanto, é o silêncio. Silêncio das instituições, silêncio dos próprios magistrados, silêncio do bom senso. Afinal, quem fiscaliza quem decide? Quando quem julga é também quem se beneficia, o risco não é só de conflito de interesse — é de ruptura na confiança do pacto democrático.
Os dados do levantamento mostram que entre 2023 e 2024, os salários líquidos dos magistrados já haviam subido 21,95%, de R$ 45 mil para quase R$ 55 mil. E o movimento ascendente continuou firme, alcançando o pico em fevereiro de 2025, quando a média ultrapassou R$ 66 mil. Uma curva salarial que lembra o foguete de Elon Musk — mas pago com o suor do contribuinte brasileiro.
Enquanto isso, na planície, professores estaduais lutam por aumentos de dois dígitos, profissionais da saúde se desdobram em três turnos, e servidores de base veem suas carreiras serem achatadas por reajustes simbólicos.
Esse abismo entre quem julga e quem é julgado, entre quem governa e quem é governado, precisa ser trazido à luz. Não se trata de questionar o valor do trabalho da magistratura — mas sim de colocar a lupa sobre um sistema de remuneração que parece ter perdido o rumo, o prumo e o senso de proporção.
É hora de perguntar: até quando o Brasil vai aceitar que existam castas dentro do Estado? Até quando os tetos serão meramente decorativos, como o forro de uma sala nobre em Brasília?
A Justiça, como aprendemos desde cedo, deve ser cega. Mas talvez seja hora de pedir, ao menos por um instante, que ela tire a venda — e olhe para o próprio contracheque.
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