ENTRE O SOFÁ, O SAL E O DESCASO
Enquanto o calendário nos lembra que no próximo sábado, dia 26, celebra-se o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial, boa parte dos brasileiros seguirá sua rotina entre o sofá, o fast food e a negligência com a própria saúde — como se corpo e mente aguentassem tudo, eternamente.
Vivemos em um país onde quase 28% da população é hipertensa, segundo o Ministério da Saúde. Mais de um quarto dos brasileiros. É muita gente com o coração pedindo socorro em silêncio, enquanto o prato transborda de sal, gordura e ultraprocessados. Uma sociedade que prefere adoecer a se movimentar, que ignora check-ups médicos, mas não perde um episódio da série favorita.
Não se trata apenas de falta de informação. É uma cultura enraizada de abandono pessoal, onde cuidar da saúde é visto como luxo, e não como prioridade. Alimentar-se bem, praticar atividade física, dormir direito — tudo isso parece estar fora da agenda da maioria. E não se engane: a hipertensão não é exclusividade de quem envelheceu mal. Ela já atinge adolescentes e crianças, vítimas precoces do sedentarismo e do consumo de industrializados.
A culpa é só individual? Claro que não. Vivemos em cidades que não têm calçadas, mas têm trânsito assassino. Bairros sem áreas de lazer, mas cheios de bares e lanchonetes 24h. A vida moderna é um convite permanente ao sedentarismo: elevadores, controle remoto, trabalho remoto, transporte por aplicativo e comida que chega na porta. O corpo não anda, o sangue não circula, a pressão sobe — e ninguém nota.
O SUS tenta, mas falta estrutura. Faltam campanhas permanentes, médicos disponíveis, exames acessíveis. Faltam políticas públicas que incentivem a saúde, em vez de só correr atrás da doença depois que ela já se instalou. Nas escolas, a educação alimentar é pífia. Nos postos de saúde, faltam profissionais para dar conta da demanda. E, no meio disso tudo, falta também consciência individual.
A hipertensão é uma doença silenciosa, crônica e traiçoeira. Mas não é invencível. O inimigo pode ser derrotado com algo muito mais barato do que remédio: prevenção e mudança de hábitos. Só que, para isso, é preciso querer. E agir.
Este editorial é um chamado à ação — para governos, profissionais de saúde, escolas, famílias, e principalmente para você, leitor. Levante-se. Caminhe. Meça sua pressão. Coma com mais critério. Desacelere. Cuide de quem você ama, e cuide de si. Porque viver mais não é o suficiente. É preciso viver melhor.