IMPOSTO DE RENDA: A CLASSE MÉDIA GANHOU UM PIRULITO (E OS DE CIMA CONTINUAM COM O BUFÊ)
No Brasil, quando algo “histórico” acontece no Congresso, o eleitor já sabe: ou é golpe, ou é alívio temporário. Talvez um favor com recibo para ser cobrado depois. Desta vez, dizem que é diferente. A partir de 2026, quem ganha até R$ 5 mil por mês não vai mais pagar Imposto de Renda. A plateia aplaude. O governo sorri. E a classe média — sempre ela — ganha um pirulito sabor alívio com gosto de “agora vai”.
Vinte milhões de brasileiros ficarão isentos. Isso não é pouca coisa. Quem andava perdendo o sono entre boletos e o contracheque agora poderá pagar a fatura do cartão com menos dor. Está ótimo.
O nome da peça é “Justiça Tributária”. Bonito no cartaz. No palco, a reforma só acerta no primeiro ato: realmente alivia o bolso dos que carregam o piano. Mas não mexe nos donos da orquestra. Para compensar os R$ 27 bilhões que deixarão de entrar nos cofres públicos, o governo promete cobrar imposto de um seleto grupo de 141 mil brasileiros que ganham mais de R$ 600 mil por ano e hoje passeiam sobre isenções como se fossem direitos humanos.
A ideia é cobrar até 10% de quem embolsa R$ 1,2 milhão por ano em dividendos e outras mágicas. O problema é que, para chegar até lá, é preciso escalar o Himalaia das brechas legais, fundos exclusivos, offshores, lucros presumidos e o velho “recebo como PJ”. E mesmo que a Receita chegue lá, é bom lembrar: os que vivem de isenção têm advogados mais caros do que a dívida ativa da União.
Ou seja: se tudo der certo, pouquíssimos ricos pagarão um pouco mais, enquanto milhões de brasileiros ganham a isenção parcial ou total — e seguem pagando ICMS, ISS, IPI, IPVA, IPTU, IVEJA, ICHUVA e o famoso Imposto Invisível da Insistência Brasileira de Existir.
E o topo da pirâmide? Continua firme, limpo e sereno. O Brasil mantém sua originalidade: é o país onde o imposto sobre o frango é mais eficiente que sobre o fortunato.
Fica então o alerta em tom de crônica. O pirulito da isenção é bem-vindo, mas não sacia a fome de um sistema tributário justo. O alívio de agora não apaga o fato de que a carga tributária no Brasil é inversamente proporcional à força de lobby: quem grita menos, paga mais. Quem grita com advogado, escapa.
E, como sempre, é bom ficar de olho em quem assina a fatura — e quem continua jantando sem lavar os talheres.
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