O BRASIL DOS LEILÕES TRAZ OPORTUNIDADES, DESAFIOS E UMA DURA REALIDADE
Os números não mentem. Em 2022, nove mil imóveis leiloados. No ano seguinte, 26 mil. E em 2023, o número saltou para impressionantes 47 mil unidades. Se há um termômetro que mede a febre da economia brasileira, ele se chama mercado imobiliário. E quem segura esse termômetro, na maior parte das vezes, é uma grande instituição financeira estatal, responsável por 70% dos financiamentos imobiliários do país.
O aumento dos leilões de imóveis nos últimos anos reflete uma combinação amarga de fatores: economia apertada, inadimplência crescente e dificuldades financeiras que se arrastam desde a pandemia. Quando o orçamento doméstico não fecha, a conta chega – e, muitas vezes, vem em forma de despejo. Dívidas de financiamento, impostos em atraso, falências e ações judiciais empurram milhares de lares para o martelo do leiloeiro. O sonho da casa própria pode virar um pesadelo quando juros, multas e honorários advocatícios entram na equação.
Mas, como dizem, enquanto uns choram, outros vendem lenços. O mercado de leilões, para além do drama humano, tem se mostrado um campo fértil para investidores atentos. Com descontos que podem chegar a 50% em relação ao mercado tradicional, e a facilidade dos pregões online, cada vez mais pessoas enxergam nos leilões uma oportunidade de diversificação patrimonial. Sim, há riscos. Sim, há burocracia. Mas o apetite do mercado indica que essa modalidade de compra e venda não só veio para ficar, como deve crescer ainda mais.
E para aqueles que querem se aventurar nesse universo, um alerta: o barato pode sair caro se o comprador não se atentar ao edital. A maioria dos imóveis leiloados ainda está ocupada e o custo de retirar o antigo morador fica por conta do novo proprietário. Ou seja, é preciso muito mais que um lance vencedor – é preciso planejamento, paciência e, claro, um bom advogado.
No fim das contas, o mercado de leilões reflete o Brasil em sua essência: um país de contrastes, onde a dificuldade de uns é a oportunidade de outros. Resta saber até quando esse ciclo se repetirá – e o que estamos dispostos a fazer para que a casa própria volte a ser um direito, e não apenas um bom negócio.
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