Corumbá, Sábado, 19 de Abril de 2025
Gregório José

O BRASIL E SUA FARMÁCIA A CÉU ABERTO

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Gregório José

Os números não deixam dúvidas: o Brasil está cada vez mais medicado. Segundo a pesquisa da IPC Maps, os brasileiros gastaram impressionantes R$ 215,8 bilhões em medicamentos no ano passado, um aumento de 9,5% em relação a 2023. E o cenário para este ano não promete alívio — pelo contrário, com o reajuste no preço dos remédios a partir de abril, a tendência é que esse gasto só cresça.

O estado de São Paulo lidera o ranking nacional, com mais de R$ 61 bilhões em despesas com medicamentos. Mas o destaque fica por conta do Distrito Federal, onde o aumento foi de espantosos 25,9% em um único ano, somando R$ 3,8 bilhões. A pergunta que fica: estamos mais doentes ou apenas mais dependentes de remédios?

A proliferação de farmácias também impressiona. Em dois anos, foram abertas mais de quatro mil novas unidades, somando 123.565 estabelecimentos no país. Para efeito de comparação, são mais farmácias do que supermercados e padarias. Em muitas cidades, há drogarias em cada esquina, num modelo de negócio que se sustenta pelo consumo crescente de remédios.

Não há como negar que parte desse crescimento vem do envelhecimento da população e do aumento das doenças crônicas. Mas também há um fator preocupante: a medicalização excessiva da vida. Vivemos numa cultura onde qualquer dor, desconforto ou cansaço se resolve com um comprimido.

A pergunta que o Brasil precisa se fazer não é apenas sobre o preço dos remédios, mas sobre a nossa relação com eles. Estamos tratando doenças ou cultivando dependências? O verdadeiro investimento na saúde deveria estar na prevenção, na educação e em políticas públicas que reduzam a necessidade de tantos medicamentos. Até lá, seguimos como um país onde farmácias se multiplicam e receitas médicas se tornam cada vez mais longas.

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