O BRASIL QUE ESQUECE SUAS DOMÉSTICAS
Ah, o Brasil cordial. A terra onde o racismo é "de estimação" e a elite ainda vive com os pés em 1822, só que com smartphone. A pesquisa divulgada sobre as trabalhadoras domésticas é o tipo de coisa que deveria causar comoção nacional, mas vai desaparecer entre um "aulão" de coach no Instagram e o último escândalo do subcelebrity de plantão.
Setenta e cinco por cento sem carteira assinada. Isso não é dado estatístico, é crônica de um país que nunca saiu da casa-grande. O Brasil não aboliu a escravidão: terceirizou. E naturalizou. Afinal, quem se importa se a mulher que limpa sua privada não tem acesso ao INSS, desde que ela "chegue cedinho e não reclame"?
Chefes de família, mães solo, negras, exaustas. O retrato da desigualdade brasileira pintado com sangue, suor e bucha sanitária. Mas o que se espera de uma sociedade que chama de "empregada" quem é na verdade o que sustenta o país em pé — nas costas?
É sintomático que esses dados sirvam para “subsidiar a Política Nacional de Cuidados”. Subsidiar? Não deveriam subsidiar nada. Deveriam envergonhar. Mas no Brasil, vergonha é coisa para pobre; o rico tem é "colchão jurídico". E empregada, aqui, ainda é chamada no grito, mas enterrada no esquecimento.
A previdência? Um sonho distante entre um ônibus lotado e uma artrose mal curada. E o Estado? Esse segue ausente como sempre, enquanto a casa segue limpa, o filho segue cuidado, e o sistema segue... imundo.
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