Corumbá, Sábado, 07 de Junho de 2025
Gregório José

O CÉREBRO ESTÁ VIRANDO PURÊ DE PIXELS E TÁ TUDO BEM (OU QUASE)

|
Gregório José
Se eu ganhasse um real a cada vez que ouvi um tiozão dizendo que “a juventude tá perdida”, eu já teria comprado um foguete do Elon Musk só pra ir ali em Marte ver se lá tem menos frescura. Agora a moda é chamar de “podridão cerebral” os vídeos que a molecada assiste: banheiro dançando, crocodilo bombardeiro, geleia falante e sei lá mais o quê. E o povo se desespera como se o cérebro da garotada estivesse derretendo igual queijo no micro-ondas.

Mas calma! Antes de sair queimando o TikTok com uma tocha na mão, vamos lembrar de uma coisa: cada geração teve sua cota de besteira. Nos anos 90, a gente assistia TV Colosso, Xuxa Park, Power Rangers e achava tudo o máximo. E ninguém morreu (pelo menos não de burrice, só de vergonha alheia).

Esse papo de que “as crianças de hoje estão sendo destruídas pelos vídeos” é quase igual àquele desespero dos nossos avós com o rock’n’roll, com a TV, com o Atari, com o pagode romântico... Enfim, é sempre a mesma história: nova tecnologia aparece, a molecada adora, e os adultos piram dizendo que é o fim da civilização. Se fosse por isso, a humanidade já teria acabado umas 39 vezes.

É claro que passar o dia inteiro vendo vaso sanitário dançar não vai te transformar no novo Einstein. Mas vamos ser sinceros: quem nunca ficou horas vendo vídeo de gatinho? Ou caiu no buraco sem fim do “coisas satisfatórias”? A diferença é que agora tem algoritmo, e o danado do bicho sabe mais sobre você do que sua mãe. Ele te dá um vídeo besta... e aí mais um... e mais um... e quando você vê, já tá assistindo um pepino sendo cortado em ASMR enquanto pensa: “só mais esse, juro”.

O tal do professor gringo até disse que não é o conteúdo que estraga o cérebro, é a falta de desafio. E ele tem razão! O cérebro não apodrece porque viu um crocodilo bombardeiro, mas porque só viu isso o dia inteiro. A cabeça precisa de exercício, tipo musculação, mas com sinapse. Se só comer bobagem, o cérebro fica flácido. Tipo braço de quem só malha perna.

E olha, não é só a molecada não! Os mais velhos tão aí, hipnotizados por vídeos de receitas que viram gatinhos, notícia falsa, textão no zap e dancinha do neto do Fábio Júnior. Ou seja, a podridão cerebral não tem idade. É democrática, inclusiva e atinge todos os CPFs.

No fim das contas, o problema não é a Skibidi Toilet, nem o Bombardino Crocodilo. O problema é a gente esquecer de equilibrar: um pouco de besteira, um pouco de leitura, um pouco de vídeo de pepino cortado, um pouco de conversa de verdade. E quem sabe, se sobrar tempo, até um livro, pô!

Então antes de sair xingando a geração Z e Alfa, olha no espelho. Tá vendo esse adulto aí? Talvez o cérebro dele já esteja meio podre também. Mas tudo bem. Ainda dá pra salvar. Só não vale assistir esse editorial em forma de dancinha.

E lembre-se: cérebro é que nem feijão — se deixar parado, fermenta.

SIGA-NOS NO

Veja Também

O BRASIL QUE NÃO PODE MAIS ESPERAR

OS "DONOS" DOS PARTIDOS POLÍTICOS / OS "DONOS" DAS SIGLAS PARTIDÁRIAS

BRASIL, UM PAÍS DE HAMBÚRGUERES E DOMINGOS DE SOFÁ

A HORA DA VERDADE FISCAL E O ENGODO NACIONAL