O MEDO QUE APRISIONA, A CORAGEM QUE LIBERTA
Os números do Ligue 180 escancaram uma realidade cruel: a violência contra a mulher no Brasil não dá trégua. Em 2024, mais de 750 mil atendimentos foram registrados. São dois mil gritos de socorro por dia, sem contar aqueles que ficam entalados na garganta de quem ainda não conseguiu pedir ajuda.
Mas aqui vai um dado que merece um holofote especial: 46,4% das vítimas relataram ser agredidas diariamente. Diariamente! Isso significa que, enquanto você lê este texto, em alguma casa, um homem levanta a voz, ameaça, humilha, bate. E o pior? Muitas dessas mulheres não saem desse inferno porque acreditam que não vão conseguir se sustentar sozinhas.
Esse é o nó psicológico que sustenta tantos relacionamentos abusivos. A violência não começa com o tapa, mas com o medo. O medo de não dar conta de pagar o aluguel, de criar os filhos, de recomeçar. E é por isso que tantas mulheres ficam presas por anos dentro de um pesadelo que se veste de estabilidade. Só depois de saírem — e muitas só saem quando quase perdem a vida — é que percebem que não era amor, nem proteção. Era pressão psicológica, chantagem emocional, domínio.
E se engana quem pensa que o problema está só em um tipo de lar ou de classe social. Os dados mostram que a violência se espalha como um vírus. E atinge de maneira brutal as mulheres negras, que representam a maioria das denúncias.
Agora, tem um outro lado da moeda que merece ser dito. Quando uma mulher consegue romper esse ciclo, ela descobre o óbvio que o medo não a deixava enxergar: sim, é possível recomeçar. Há redes de apoio, políticas públicas (embora ainda muito falhas), e uma sociedade que precisa deixar de julgar e passar a amparar.
O Ligue 180 não é só uma central de denúncias. É um canal de acolhimento. Mas acolhimento de verdade acontece antes da agressão. Antes da mulher achar que precisa aguentar. Antes dela duvidar da própria força. E, acima de tudo, antes que seja tarde demais.
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