Corumbá, Sábado, 19 de Abril de 2025
Gregório José

O QUE AINDA NÃO APRENDEMOS SOBRE "VACINAS" E "VALORES"

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Gregório José

A cobertura vacinal contra a gripe no Brasil é um termômetro amargo da nossa relação com a saúde pública: ela mede, mais do que a imunização em si, o nível de responsabilidade individual e coletiva que carregamos — ou negligenciamos. Com apenas 55,1% da população elegível vacinada em 2024, o que vemos é mais um retrato do desencanto, do cansaço ou da desinformação que paira sobre uma sociedade cada vez mais vulnerável a si mesma.

É curioso — e preocupante — notar que em pleno século XXI, com acesso irrestrito à informação e à ciência, ainda lidamos com resistência à vacina. O Brasil, que já foi exemplo mundial em campanhas de imunização, agora patina em índices medíocres, muito distantes dos 90% que o Ministério da Saúde preconiza. Isso enquanto o vírus Influenza continua a circular, a evoluir, a se reinventar, pronto para explorar cada fresta que deixarmos aberta.

Vacinas são um pacto civilizatório. Atualizadas a cada ano, como nos lembra a infectologista Sylvia Freire, elas acompanham as mutações do vírus para proteger vidas. É tecnologia, é ciência, é esforço coletivo. Ainda assim, há quem duvide, relativize ou, pior, ignore.

E quando falamos de idosos, que são mais frágeis diante da gripe, o cenário se torna ainda mais sensível. A vacina de alta concentração — a chamada HD4V — é um avanço importante. Estudos mostram que ela é 24% mais eficaz para os maiores de 65 anos, especialmente contra a temida cepa H3N2. Isso não é achismo, é dado, é estudo, é evidência.

Mas mesmo com tudo isso, seguimos vendo filas vazias nos postos de saúde, enquanto as emergências dos hospitais se enchem a cada virada de clima. É uma equação perversa: quanto menor a adesão à vacina, maior a lotação nos hospitais. E quem paga essa conta é o sistema, são os profissionais de saúde, é a própria população, especialmente os mais vulneráveis.

O Brasil precisa reaprender o valor do básico. Vacinar-se não é um ato político, não é um modismo, não é um detalhe. É uma decisão de cuidado com o outro. É cidadania na prática.

Talvez seja hora de refletirmos: estamos mesmo dispostos a nos proteger e proteger quem amamos? Ou continuaremos entregando o destino de nossas vidas — e das vidas ao nosso redor — ao acaso e à ignorância?

É como dizia um velho médico de família: “Vacina boa é aquela que a gente toma. E de preferência, antes de adoecer.” É simples assim.

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