Corumbá, Sexta, 02 de Maio de 2025
Gregório José

SORRINDO NO TRABALHO, CHORANDO NO CONTRACHEQUE

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Gregório José

No Brasil de 2025, onde o trabalhador precisa ser multitarefa, resiliente, bilíngue, saber Excel avançado, cozinhar, fazer café e ainda sorrir no LinkedIn, uma pesquisa da Serasa feita com o Instituto Opinion Box traz uma revelação no mínimo curiosa: 63% dos brasileiros dizem estar satisfeitos com a posição que ocupam no trabalho. Mas veja bem: satisfeitos com a cadeira, não com o salário. Porque 68% estão insatisfeitos com o que recebem no fim do mês.

Ou seja, o cidadão brasileiro está dizendo: “tô feliz, mas queria ganhar mais”. Um paradoxo tipicamente tupiniquim. Como dizia o Barão de Itararé, “de onde menos se espera, dali mesmo é que não sai nada”.

Agora veja, querido internauta: 59% estão otimistas com o futuro profissional, mesmo vivendo em um país onde a reforma trabalhista prometeu milhões de empregos — e entregou milhares de bicos. Onde a reforma da Previdência “salvou” o sistema, mas deixou só 32% acreditando que vão se aposentar com tranquilidade.

Esse otimismo, portanto, é quase um ato de fé. O trabalhador brasileiro virou um misto de São Tomé com São Jorge: trabalha com o que tem, luta contra os dragões da inflação e da precarização, e ainda tem que ver o patrão falando de “meritocracia” enquanto corta o cafezinho da firma.

Outro dado interessante: a maior preocupação não é ser substituído por robô. É com a economia — 38,7% contra 34,5%. O brasileiro está dizendo, em bom português: “se eu tiver emprego, até divido espaço com a inteligência artificial. Mas primeiro, me dá emprego!”

E por que tanto medo da economia? Porque ela ainda é conduzida entre planilhas e promessas, enquanto o feijão continua caro, o botijão de gás ameaça explodir o orçamento familiar e o aluguel consome metade do salário.

Mas veja só, tem esperança no horizonte: 83% valorizam a educação financeira no trabalho, e 86% acham que isso ajuda a planejar o futuro. Um número que diz muito — porque se o brasileiro está pensando em planejamento, é porque está cansado de sobreviver no improviso. Educação financeira não é luxo, é necessidade. E quem oferece isso no ambiente de trabalho, querido patrão, não está dando mimo. Está oferecendo dignidade.

Em resumo: o trabalhador brasileiro está no limite, mas não perdeu a fé. Quer salário melhor, quer qualidade de vida, quer menos pressão e mais perspectiva. E o mais importante: quer ser tratado como gente — e não como parte do mobiliário da firma.

Portanto, no 1º de Maio, a mensagem é clara: valorizem quem ainda carrega o piano, mesmo quando a orquestra finge que não precisa dele.

Porque, como dizia o homem que vos fala: “O povo não é bobo!”

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