UM OLHAR SOBRE O RANCOR E A LIBERTAÇÃO DA ALMA
Guardar rancor é um ato de resistência contra a fluidez natural da vida, como se desejássemos interromper o curso de um rio para aprisioná-lo em nossas mãos. É uma insistência em manter a dor viva, uma tentativa de transformar o passado em presente, mesmo quando tudo ao nosso redor insiste em seguir adiante.
Quando carregamos o rancor, estamos nos atando a uma âncora que nos mantém submersos. Tal como foi dito, é como beber um veneno na expectativa de que o outro padeça. Mas o veneno não atinge seu alvo; ele nos consome, dia após dia, corroendo nossa paz e obscurecendo nosso horizonte.
Se a vida é curta, como bem se diz, por que desperdiçá-la em uma batalha interna que só perpetua a dor? Libertar-se do rancor não é um ato de benevolência para com o outro, mas de compaixão para consigo mesmo. Deixar ir é um ato revolucionário, porque desafia a tendência humana de se apegar ao sofrimento como prova de sua própria existência.
Grandes filósofos sugeririam que, antes de qualquer tentativa de liberar o rancor, é preciso compreendê-lo. Ele nasce de uma ferida, e toda ferida tem uma história. Validar essa dor não é fraqueza, mas coragem. É preciso ouvir o que ela tem a dizer antes de soltá-la.
Ao tentar compreender a perspectiva da outra pessoa, não estamos desculpando ou justificando suas ações, mas reconhecendo que somos todos prisioneiros de nossas circunstâncias, limitações e histórias de vida. Isso nos permite enxergar a humanidade no outro e, mais importante, em nós mesmos.
Expressar sentimentos, como o texto sugere, é abrir uma janela em um quarto abafado. Quando compartilhamos nossa dor, damos a ela um espaço para respirar, e, no processo, descobrimos que não precisamos enfrentá-la sozinhos.
Finalmente, envolver-se em atividades que trazem alegria não é fugir da dor, mas reafirmar a vida. O rancor grita, exige nossa atenção, mas o riso, a música, a dança e os momentos de felicidade silenciosa são antídotos poderosos. Eles nos lembram de que a vida continua a nos oferecer beleza, mesmo quando insistimos em nos agarrar ao que foi feio.
Talvez alguém diria que libertar-se do rancor é um ato filosófico. É reconhecer que a vida é breve, preciosa e destinada a ser vivida com leveza. A mágoa nos convida a mergulhar no passado, mas a sabedoria nos chama a caminhar no presente. E, nesse caminhar, deixamos pelo caminho a mochila pesada que um dia acreditamos precisar carregar.
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