CANTINHO DO BETÃO: A VINGANÇA DO RIO – Parte II
Eu e meu dileto companheiro de aventuras chegamos naquele vilarejo pra lá dos cafundéus, lá pelas 4 da tarde. Seo Picolino já nos esperava na porta do rancho, nos ofereceu um café com torradas e nos conduziu ao bolicho do Teodorico.
Seo Nhonhô trazia na carroça, medicamentos fabricados em Vila Utopia, por Vovô Ozório e seu ajudante Delvizinho. Sabedores que eram daquelas mazelas do lugarejo dominado pelos garimpeiros ilegais.
Arinelsone a dupla de japoneses estavam à nossa espera. Depois das devidas apresentações e a entregas dos medicamentos da Vila aos médicos, ficamos ouvindo os comentários, os vai e vens do Vilarejo, degustando umas cachacinhas e cervejas. Seo Nhonhô já havia colocado a perereca num copo de pinga enquanto esperávamos o tira gosto.
Antes do anoitecer, os nipônicos e Arinelson voltaram ao rancho para darem os últimos retoques na cabana hospital. O trailer, acondicionado ao furgão, que fazia o papel de laboratório, acondicionando os bichos peçonhentos, estava estacionado ao lado da cabana. Em seu interior havia uma pá de insetos, aracnídeos e serpentes, além do laboratório onde os nipônicos trabalhavam arduamente na produção de antídotos.
O rancho de Picolino ficava quase em frente à curva do rio onde caíra o arvoredo que impedia que os entulhos do garimpo se escoassem rio abaixo e, à noite, quando dava um vento a favor, a catinga de carniça tornava o ar quase irrespirável.
Contou-nos Picolino, que, pelo menos uma vez por mês, chegava um, testa de ferro para recolher o ouro produzido no garimpo, fazer o pagamento e, algumas vezes, trazer armamentos para a proteção contra os índios. Certa vez, dois jornalistas se aventuraram por aquelas matas e nunca mais foram vistos. Dizem que um deles havia camuflado entre as raízes de um ipê e que tudo documentava, filmando, inclusive Fernandão, cabra de 1,80 de músculos bem distribuídos e o chefão do garimpo onde mais 10 garimpeiros ilegais trabalhavam e tinham que entregar 30 por cento do ouro para Fernandão entregar ao testa de ferro que por lá aparecia uma vez por mês.
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- Eita, Seo Moço – disse Seo Nhonhô deitado na rede ao lado da minha – fiquei vidrado naquela japinha gostosa...
- Acalma, Velho, cuidado com o irmão dela. – Ele parece pequeno, mas deve ser mestre em artes marciais.
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Mergulhados em seus tubos de ensaio, becker, destiladores e microscópios, Yoshy e Takayaka trabalhavam com afinco sob a luz do pequeno gerador do trailer, tentando produzir antídotos.
As placas de Petri do laboratório improvisado, com agar-agar, acondicionavam os colhidos a serem analisados pelos microscópios. O casal de japas só foi dormir após um bom banho e um caldo de frango feito pela esposa de Arinelson que, na cagada do pato já estaria pronto para conduzir os japoneses para uma jornada de trabalho.
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Na cagada do pato, eu e Seo Nhonhô, após um lauto café da manhã, pegamos um trilheiro, conduzidos por Picolino, até as margens do rio onde o espetáculo era deprimente: - o arvoredo caído, de ponta a ponta impedia que os dejetos dos garimpeiros rodassem correnteza abaixo e a fedentina era horrível, quase irrespirável. Cachorros em decomposição boiavam ao lado do tronco, onde urubus pousavam, tentando limpar a carniçada, mas, nem eles davam conta do recado.
Do meu ponto privilegiado, usando meu binóculo, dava para ver, perfeitamente, a margem oposta, onde, na pedreira, alguns índios, em troca de cachaça, martelavam as tochas sob os olhares atentos dos garimpeiros.
A curva do velho rio, antes muito piscoso, até espumava de raiva, como se esperasse vingança pelos maltratos do homem.
Enquanto isso, Yoshy e Takayaka já havia atravessado o pontilhão com o furgão hospital e iam, sob a orientação de Arinelson, percorrendo as diversas fazendolas da margem oposta, procurando possíveis enfermos e, os que encontravam, logo eram medicados, inclusive com as pomadas milagrosas do Vovô Ozório. Que bom que não havia ninguém para ser levado ao hospital de emergência no rancho de Arinelson.
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Fernandão e mais três cupinchas, logo à noite, foram ao bolicho da vila pra mode comprar carne de sol e lá encontraram com os nipônicos. Eu e Seo Nhonhô tomávamos uma gelada noutra mesa e ouvimos a discussão.
- Soube que vocês andam xeretando por aí, engrupindo de que são médicos do governo. Não quero ninguém rondando minha área pois do contrário o bicho vai pegar, principalmente para essa japinha gostosa, na qual já vou dar um trato nela agora mesmo. – Disse Fernandão aproximando-se de Yoshy, agarrando-a pelos braços, tentando beijá-la. Foi aí que Takayaka se levantou e, mesmo sendo ameaçado pelos capangas, plantou na base e os que primeiro se aproximaram levaram pés na orelha e nas ventas, indo beijar o solo. Fernandão largou a japinha e, sacando uma faca, partiu pra cima do algoz. Levou um empurrão pelas costas e, quando virou, só teve tempo de ver os delicados pés da nipônica atingirem, em cheio, seu maxilar e uma pernada de Takayaka o prostou, sangrando ao solo.
Fernandão e os cupinchas pegaram seus cavalos e, jogando ameaças, prometeram voltar.
*AGUARDEM MAIS UM CAPÍTULO DA VINGANÇA DO RIO NA PRÓXIMA SEMANA.
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