O RESGATE CULTURAL EM CORUMBÁ
Se São João soubesse
Que hoje era seu dia
Descia do céu a terra
Com prazer e alegria
O São João Pantaneiro envolve toda Corumbá e chegou a ser proibido pela igreja, em meados do século passado, provavelmente pela sua característica sacroprofano, onde hoje se misturam catolicismo, candomblé e umbanda. Na descida dos andores, misturam-se o canto da ladainha e o batuque em ritmo de frevo, onde os fieis dançam e se agitam segurando a vela acesa na mão, acompanhados por uma banda de sopro. Este é o diferencial da festa corumbaense dos demais arraiais pelo País.
Em todos os cantos do município, Corumbá, localizada no Pantanal de Mato Grosso do Sul, é festa, é crença, é devoção, é tradição. Um dos pontos altos é a Lavagem do Santo, nas águas do rio Paraguai, dia em que os festeiros descem a ladeira Cunha e Cruz. Os festeiros, que são mais de 100, e que tiveram de mudar a estratégia na época da Covid, agora poderão voltar a abrir as portas de suas casas para a festa do Arraial do Banho de São João. Os festejos são em junho, mas as casas de rezas se preparam o ano todo para o “banho”, onde paga-se promessas por uma graça alcançada – fé que perpetua o ritual. Considerada pelo Ministério do Turismo um dos cinco principais destinos de festejos juninos do Brasil, (Belo Horizonte-MG, Bragança-PA, Campina Grande-PB, Corumbá-MS e São Luis-MA). O Arraial do Banho de São João, além de enaltecer a cultura local, beneficia a economia. Considerada a segunda maior festa de Corumbá, perdendo apenas para o carnaval, e agora depois do sucesso do Festival da América do Sul, percebemos a grande movimentação nos restaurantes, bares, rede hoteleira, aquecendo o comércio formal e informal e favorecendo o microempreendedor individual. Realizado na noite de 23 para 24 de junho, anualmente, envolve pelo menos 03 grandes etapas: a preparação (novenas, construção de andores, hasteamento do mastro, preparação de alimentos etc.); o Banho propriamente dito (descida da Ladeira Cunha e Cruz, prioritariamente, e “batismo” do Santo nas águas do Rio Paraguai); e a festa (retorno aos lares católicos ou terreiros afrodescendentes, com música, dança, pratos típicos e bebidas) e por isso quando as pessoas se encontram no dia 24 sempre perguntam: E aí, festou muito ontem?
Por enquanto, Campina Grande (PB) e Caruaru (PE) disputam o título de quem faz o maior e melhor São João do Mundo por atraírem multidões ao longo do mês de junho. São shows e atrações que vão dos ícones da cultura local aos grandes nomes da música nacional. Ainda no Nordeste, os festejos de São de São Luis (MA) também se destacam pelo rufar dos tambores e diferentes sotaques da música local em uma celebração que mistura festa junina com Boi-Bumbá. Em Mossoró (RN) o espetáculo Chuva de Bala no País de Mossoró dá um toque especial à festa. Ao longo da programação junina, a cidade libertária revive o dia 13 de junho de 1927 (dia de Santo Antônio), quando até as torres das igrejas serviram de trincheiras para enfrentar o bando de Lampião que experimentou na ocasião sua primeira derrota após a própria população ter resistido armada contra o bando do cangaceiro. As festas juninas adquirem características locais como o Forrozão Marajoara e Salvaterra na Roça (PA), Arraiá Caiçara (SP), Arraial Anaua e Macuxi (RR). Mas certamente em 2023 voltarmos a ter na nossa Corumbá a maior festa tradicional do estado.
* Articulista
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