Decisão do Copom é incompatível com atual cenário de inflação, afirma presidente da CNI
Para Ricardo Alban, há espaço para um corte maior por parte do Banco Central. Ideal seria aumentar, ou pelo menos, manter ritmo de corte em 0,5 ponto percentual como vinha sendo realizado desde 2023.
A considera inadequada a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de reduzir a taxa básica de juros, Selic, em apenas 0,25 ponto percentual e, consequentemente, diminuir o ritmo de cortes.
“Essa decisão é incompatível com o atual cenário de inflação controlado e torna impraticável continuar o projeto de neoindustrialização do país com altos níveis de taxa de juros. Reduzir o ritmo de corte da taxa básica tira a oportunidade de o Brasil alcançar mais prosperidade econômica, aumento de emprego e de renda”, afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban.
A CNI espera que, nas próximas reuniões, após a divulgação de novos dados sobre inflação que confirmem a continuidade da convergência para a meta, seja retomado o ritmo dos cortes que vinham ocorrendo desde agosto de 2023 de 0,5 ponto percentual.
Cenário inflacionário brasileiro segue positivo
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi de 4,62% no acumulado em 12 meses em dezembro de 2023, registrou 3,93% no acumulado em 12 meses até março de 2024, abaixo do teto da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional. Os núcleos de inflação, que excluem choques temporários, apresentaram desaceleração ainda mais acentuada: a média dos cinco principais núcleos, que era 4,3% no acumulado em 12 meses até dezembro de 2023, caiu para 3,6% no acumulado em 12 meses até março de 2024.
As expectativas do mercado também são favoráveis. O último relatório Focus, de 6 de maio, aponta inflação de 3,72% no final de 2024, uma queda em relação aos 3,9%, previstos em 2 de janeiro de 2024. As expectativas em queda sinalizam novamente para o cumprimento da meta, em condição ainda melhor do que a observada em 2023, pois deve se aproximar do centro da meta, de 3%.
Taxa de juros real em 6,9% desestimula a atividade econômica e o crédito
Além do quadro de inflação controlada, outra razão para cortes mais intensos da Selic são os prejuízos que as taxas de juros reais elevadas provocam na economia. Mesmo com os cortes já realizados, a taxa de juros real (que desconsidera os efeitos da inflação) está em 6,9% ao ano, ou seja, 2,4 pontos percentuais acima da taxa de juros neutra, aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica. Essa elevada taxa de juros tem efeito direto e negativo na atividade econômica e no crédito.
Os dados mostram que, apesar do aumento real de 1,1% nas concessões totais de crédito no acumulado em 12 meses até março de 2024, em comparação com acumulado em 12 meses até março de 2023, as concessões para as empresas tiveram queda real de 1,9%.
De acordo com a CNI, a queda nas concessões de empréstimos evidencia as sérias dificuldades em tomar crédito, devido ao custo elevado, e prejudica os investimentos, a produtividade e a competitividade.
Economia brasileira dá sinais de perda de dinamismo
A consequência do alto nível da taxa de juros real é a perda de dinamismo da economia brasileira. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), calculado pelo BC, apontou crescimento de apenas 1,23% no trimestre encerrado em fevereiro de 2024, na comparação com o trimestre anterior. Para uma economia que cresceu 2,9% em 2023, é evidente a perda de ritmo de crescimento.
Na avaliação da CNI, um ponto de preocupação do BC é a condução da política fiscal, devido à revisão da meta de superávit fiscal para 2025 e 2026. Porém, é preciso considerar que não houve perda de confiança dos investidores no Brasil: o risco-Brasil, medido pelo EMBI+, manteve-se constante ao longo do mês de abril, mesmo com a revisão da meta. Isso indica que, apesar da preocupação com as contas públicas, não há crise de desconfiança em relação ao Brasil.
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