Corumbá, Sábado, 03 de Maio de 2025
Meio Ambiente

Institutos veem ‘oportunidade histórica’ com discussão sobre fundo de conservação do Pantanal

Ministra do Planejamento levantou debate sobre investimentos internacionais no bioma.

Foto: Lucas Ramos Mendes

Em visita a Mato Grosso do Sul na última semana, a ministra do Planejamento e Orçamento Simone Tebet reacendeu o debate sobre a conservação do Pantanal. A sul-mato-grossense encampou a pauta ambiental - uma das prioridades do governo Lula - e, em entrevista coletiva, disse que o bioma “está causando grande preocupação para os organismos internacionais”. O discurso reverberou entre as entidades da sociedade civil que estão na vanguarda da proteção do Pantanal.

Simone destacou que o Estado ainda deve elaborar projetos para conseguir recursos específicos para a área ambiental. Segundo ela, Mato Grosso do Sul precisa se valer do redirecionamento da política nacional, “aproveitar que o governo federal voltou a se preocupar com a questão ambiental e sabe o dever de casa, sabe que se cuidar dos biomas virão bilhões de reais de fundos de investimento para o Brasil”.

O diretor-presidente do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), Ângelo Rabelo, interpreta o discurso como uma chance única para posicionar a conservação do bioma no debate internacional. “Nós temos uma oportunidade histórica - considerando que o Pantanal foi inserido numa discussão mundial pela sua importância, pela sua riqueza de biodiversidade - de assegurar que ele não sofra transformações. E são necessários, para isso, investimentos. Não necessariamente de infraestrutura, mas investimentos que possam conciliar a produção e a conservação”, avalia.

Rabelo ainda aponta para uma aliança entre os dois estados que comportam o Pantanal - Mato Grosso do Sul e Mato Grosso - como uma saída para dar ainda mais peso aos apelos. “A ministra, pela posição estratégica dela, pode chamar os dois governadores. A nascente do Rio Paraguai hoje está sob pressão, como a nascente do Sepotuba, do Jauru, nascente do Aquidauana”, exemplifica.

A proteção dos rios que irrigam a maior planície alagável do Mundo também é listada como prioridade pelo diretor do Instituto SOS Pantanal, Leonardo Gomes. “A gente precisa conservar as cabeceiras, que geralmente estão fora do Pantanal. Recuperar áreas de preservação permanente, beiras dos rios, para que não ocorram mais assoreamentos, contaminações e processos como a gente observou no Taquari”, defende ele.

Foto: Saul Schrmamm

O Rio Taquari teve destaque na fala da ministra do Planejamento e Orçamento durante a visita ao Estado. Simone falou que o desassoreamento do curso d’água pode custar algo em torno de R$ 500 milhões, recursos que, segundo ela, “o governo do Estado não tem, mas os bancos internacionais sim, e têm vontade de ajudar”.

Exemplo do Fundo Amazônia pode ser adaptado ao Pantanal
O Fundo Amazônia, criado em 2008 para captar recursos voltados ao combate ao desmatamento e ao desenvolvimento social da floresta, é visto por Leonardo Gomes como uma referência que pode ser replicada no Pantanal, desde que adaptado às peculiaridades do bioma. “Já está na hora de a gente ter um fundo multilateral, com bancos, empresas, governos internacionais, destinado ao desenvolvimento sustentável, com foco na conservação do Pantanal. Aliando desenvolvimento econômico à conservação ambiental e desenvolvimento social e de renda, que é o que tem sido feito no Fundo Amazônia”, afirma.

Ainda conforme o diretor do SOS Pantanal, um fundo internacional de conservação pode contribuir com diversas frentes de proteção do bioma. Frentes que, inclusive, podem gerar renda e movimentar a economia da região.

“A gente precisa ajudar a estabelecer os arranjos produtivos locais do Pantanal. Tem pouquíssimos exemplos, como o baru em Nioaque, já na borda do Pantanal. A gente precisa implementar sistemas agroflorestais, principalmente em terras indígenas, assentamentos, redes de proprietários rurais, para que a gente tenha produtos da sociobiodiversidade do Pantanal - que são vários. Frutos, mel do Pantanal, a própria experiência da pecuária de baixo carbono.    Produtos que podem se tornar referência mundial se a gente estruturar as cadeias locais”, opina Gomes.

Em outra frente, o aporte de recursos internacionais pode trazer mais qualidade de vida e dignidade para as populações que vivem no Pantanal. “Ironicamente, apesar do Pantanal ser a maior planície alagável do Mundo, muitas pessoas não têm acesso à água potável, ao saneamento básico. Mesmo em áreas remotas, a gente consegue levar soluções. Programas que a gente vê na Amazônia e que seriam muito bem-vindos aqui no Pantanal também”, completa o diretor do instituto.

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