Delgatti diz à PF que Bolsonaro perguntou se ele conseguiria invadir as urnas eletrônicas
Diálogo narrado pelo hacker aconteceu em 2022, no Palácio da Alvorada, em reunião intermediada por Carla Zambelli.

Conhecido como 'hacker da Vaza Jato', Walter Delgatti Neto, preso nesta quarta-feira (2) em operação que também teve como alvo a deputada federal bolsonarista Carla Zambelli, relatou à Polícia Federal que durante uma reunião em 2022 com Jair Bolsonaro (PL), que ainda ocupava a Presidência da República, o então mandatário lhe perguntou se ele conseguiria invadir as urnas eletrônicas se tivesse acesso ao código-fonte dos dispositivos, informa Camila Bomfim, do g1. Delgatti disse aos investigadores que "isso não foi levado adiante".
"QUE apenas pode afirmar que a Deputada Carla Zambelli esteve envolvida nos atos do declarante, sendo que o declarante, conforme saiu em reportagem, encontrou o ex- Presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada, tendo o mesmo lhe perguntado se o declarante, munido do código fonte, conseguiria invadir a Urna Eletrônica, mas isso não foi adiante, pois o acesso que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal, e o declarante não poderia ir até lá, sendo que tudo que foi colocado no Relatório das Forças Armadas foi com base em explicações do declarante", diz trecho do relatório da PF.
A reunião entre Bolsonaro e o hacker foi intermediada pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Delgatti Neto relatou que somente poderia obter o código-fonte das urnas na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e que "não tinha como ir até lá".
Para garantir a integridade dos equipamentos, o TSE permite o acesso antecipado aos sistemas eleitorais para fins de auditoria, com 12 meses de antecedência em relação à data do primeiro turno. No entanto, de acordo com o TSE, esse acesso ocorre em um ambiente específico e sob a supervisão do tribunal.
A operação desta quarta teve como foco Carla Zambelli. Os investigadores estão averiguando se Delgatti Neto invadiu o site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inseriu documentos falsificados no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões. Isso incluiu um falso mandado de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A operação, que teve a autorização de Moraes, resultou na prisão preventiva de Walter Delgatti Neto e na realização de cinco mandados de busca e apreensão, direcionados a ele e a Carla Zambelli (três em Brasília e dois em São Paulo). Durante as buscas, foram apreendidos itens como armas, munições, computadores, tablets, celulares, passaportes, dinheiro e bens de valor.
Em comunicado, a defesa de Walter Delgatti Neto confirmou a prisão do hacker, mencionou que não teve acesso à decisão judicial e informou que ele está detido na sede da Polícia Federal em Araraquara (SP). A defesa de Carla Zambelli emitiu uma declaração confirmando as buscas e negando qualquer irregularidade por parte da deputada. Na nota, a deputada expressa sua disposição em cooperar com as autoridades e aguardar o desfecho das investigações para provar sua inocência.
Veja Também
Na tentativa de comprar votos, Bolsonaro deixou calote bilionário na Caixa
Do que Bolsonaro é acusado no julgamento que começa nesta quinta no TSE?
TSE forma maioria para tornar Bolsonaro inelegível por oito anos
STF mantém suspensão de decretos de Bolsonaro sobre armas
Ministro Alexandre de Moraes propõe critério para diferenciar usuários de traficantes de maconha
Ação contra esquema de joias se inspira na Bíblia: ‘Nada há encoberto que não venha a ser revelado’
Delgatti: Bolsonaro prometeu indulto em caso de grampo contra Moraes